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Jornal de hontem agosto 2015

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Hiroshima e Nagasaki

PORTELA, Lauro

            Na manhã de 6 de agosto, às 8h:15, horário local, um clarão seguido de grande explosão cobriu a cidade de Hiroshima, porção ocidental da ilha Honshu, na região denominada Chugoku. Do alto da esquadra de B-29 destacados para a missão, (entre os quais Enola Gay, o portador do artefato nuclear de Urânio-235), viu-se formar um imenso “cogumelo” resultante dos 15 quilotons de potência (1 quiloton = 1000 toneladas de dinamite). A bomba Little-Boy colocava fim, naquele instante, a um número surpreendente de vidas – estima-se 66 mil pessoas; quase 70 mil ficaram feridas.

            Dias depois, a 9 de agosto, às 11h:02, horário local, foi a vez de Nagasaki sofrer o segundo bombardeio nuclear. Desta vez, um artefato de Plutônio-239, o Fat-Man, produziu uma explosão ainda maior: 21 quilotons. A cidade-alvo principal era Kokura (norte da ilha de Kiushu), mas uma fumaça preta cobriu o ponto de despejo e um problema mecânico arremeteu a pequena esquadra de B-29 para o alvo secundário, ao sul da mesma ilha, onde a missão teve êxito. Por ser uma cidade menor, o número de vítimas ficou estimada em 39 mil mortos e 25 mil feridos.

            Os bombardeamentos foram cruciais para a rendição do Japão, pondo fim à Segunda Guerra Mundial. Desde a Conferência de Ialta, em fevereiro de 1945, que as condições de paz estavam decididas em relação às forças do Eixo. Desta Conferência, participaram os líderes das três principais forças aliadas: o primeiro-ministro britânico W. Churchill, o presidente dos EUA F. D. Roosevelt e o primeiro-ministro soviético J. Stalin. Este último se comprometeu a direcionar o Exército Vermelho para golpear as forças imperiais japonesas de ocupação na China e na Coréia. Os EUA, por sua vez, começariam a invasão insular, em fins de 1945, através da Operação Ruína (Operation Downfall, no inglês, que foi dividida em duas etapas: Olímpico, na tradução de Olympic, com a invasão da ilha de Kyushu; e Diadema, tradução de Coronet, na ilha de Honshu.

            Em maio de 1945, o Japão fez, por meio de diplomatas soviéticos, uma proposta de paz. O jornal “O Mato Grosso” noticiou o fato em uma nota curta em sua edição n. 1395, de 20 de maio. Na verdade, já em 1945 o Estado Novo de Vargas ruía com o fim da guerra, e a campanha eleitoral para a sucessão presidencial tomava conta do noticiário – ainda mais quando o candidato “oficial” era o mato-grossense Eurico Gaspar Dutra. Deste modo, embora breve, as notícias do fim da guerra nos dão a efeméride dos momentos finais do conflito, no Pacífico.

            A proposta de paz japonesa não agradou aos aliados, pois previa: a inviolabilidade do Imperador, a não-ocupação do território japonês e a punição por eventuais crimes de guerra por tribunais nipônicos. A inteligência de guerra dos EUA acompanhava as informações trocadas pelos corpos diplomáticos decodificando as transmissões via rádio. Os code breakers (decifradores de códigos), também chamados de magicians (do inglês, mágicos) reuniram um corpus documental que mudaria profundamente a direção da guerra. Conforme informações advindas do “Magic” Diplomatic Summary (Resumo Diplomático “Mágico”, em livre tradução) davam conta de que o Japão pretendia resistir. Ao mesmo tempo, observava-se grande concentração de tropas japonesas na ilha visada pela operação Olympic. A decisão por outra solução estratégica ganhava forma, fundamentando, em fins de julho de 1945, o uso dos artefatos nucleares.

            Na Conferência de Potsdam, realizada na já ocupada Alemanha entre fins de julho e início de agosto de 1945, H. S. Truman, presidente em exercício desde a morte de Roosevelt, confidenciou ao líder soviético a posse de uma arma incrivelmente superior a qualquer outra já imaginada. Embora o Projeto Manhattan fosse ultra-secreto (tão secreto que o próprio vice-presidente Truman só tomou conhecimento da existência de um artefato nuclear um dia após sua posse), Stalin sabia do que se tratava.

            O Tratado de Potsdam assinado ao fim da conferência, entre outras coisas, reafirmava a rendição unilateral e incondicional do Japão. Mas foi ignorado pelo Imperador, o qual esperava, junto com seus líderes militares, resistir o máximo possível à invasão de seu território e, então, negociar a paz. Foi com base nesse posicionamento que os dois artefatos nucleares foram despejados em 6 e 9 de agosto, como descrito acima.

            Em Mato Grosso, observamos duas notícias importantes na edição de “O Estado de Mato Grosso”, de 10 de agosto de 1945. A primeira, intitulada “O Papa protesta contra o emprego das Bombas Atômicas”, trata-se da manifestação pública do Papa Pio XII a respeito da carnificina causada pelas armas de destruição em massa. A segunda, sob o título “A Guerra Russo-Japonesa – Os vermelhos invadiram a Manchúria” informa a respeito do cumprimento daquilo que ficou acordado desde a Conferência de Ialta: o auxílio soviético para esmagar o exército japonês. O bombardeio nuclear de Hiroshima pegou os soviéticos de surpresa, mas não parou o Exército Vermelho. Ao Japão não restou alternativa senão aceitar os termos de Potsdam.

            Já nas primeiras horas do dia 10 de agosto, o Imperador Hirohito designou seu ministro de Relações Exteriores Mamoru Shigemitsu para tratar da rendição japonesa. Uma breve coluna tratou do assunto em “O Estado de Mato Grosso”, do dia 12 de agosto, sob o título “Pediram paz os japoneses: os amarelos de Hirohito apavoram-se com as bombas atômicas”. A “Ata de rendição do Japão” foi assinada a 2 de setembro de 1945. A guerra, enfim, terminava.

Sob os escombros da guerra

            A Segunda Guerra Mundial foi aquilo que o historiador Eric Hobsbawm chamou de “guerra total”. Tratou-se, portanto, de uma guerra travada sem limites. Para ambos os lados estava clara a posição de que a vitória do inimigo significaria a própria aniquilação. Não é à toa que para os russos não se trata da “Segunda Guerra Mundial”, mas da “Grande Guerra Patriótica” travada homem a homem desde a invasão e ocupação nazista até a ocupação de Berlim.

            O Japão, país dependente de recursos importados por via marítima, entrou na guerra determinado a ser derrotado. As forças americanas eram imensamente superiores ao que dispunha os japoneses. E os EUA souberam equilibrar a disponibilidade de recursos para a guerra travada na Europa e o que se travou no Pacífico. A Alemanha foi derrotada em três anos e meio, lutando em duas frentes; o Japão, em menos de três meses, lutando contra apenas os estadunidenses.

            Acima de tudo, os avanços tecnológicos da guerra total trouxeram um fato novo à carnificina da guerra: a impessoalidade. As novas tecnologias permitiram, a partir de então, matar pessoas à distância – fossem elas judeus em trens a caminho de câmaras de gás; ou cidades, cuja geografia as tornasse alvos estratégicos. Nas palavras de Hobsbawm: “O aspecto não menos importante dessa catástrofe é que a humanidade aprendeu a viver num mundo em que a matança, a tortura e o exílio em massa se tornaram experiências do dia-a-dia que não mais notamos.”

 

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