SELECT * FROM (`pagina`) WHERE pagina_endereco = 'jornal-de-hontem-janeiro-2017' AND pagina_status = 'A' AND (`pagina_ativa_ate` >= NOW() OR `pagina_ativa_ate` IS NULL) SAP-MT Superintendência de Arquivo Pública
jornal de hontem janeiro 2017

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A primeira ponte sobre o rio Cuiabá

PORTELA, Lauro 

A 20 de janeiro de 1942, “O Estado de Mato Grosso” estampava em sua capa a notícia da inauguração da ponte “Bel. Júlio Müller”: uma ponte em concreto armado com 224m de extensão, 6,0m de pista para dois veículos e passeio público, além de 40m de vão para a navegação. Um detalhe era bastante chamativo: os arcos decorativos alinhados junto ao parapeito do passeio público com vigas que atravessavam a ponte de um arco a outro. O estilo arquitetônico era o Art déco, o mesmo das outras “Obras Oficiais” construídas pelo Estado Novo. As obras de construção, como ocorreu com as “Obras Oficiais” de modernização de Cuiabá, foram tocadas pela firma Coimbra Bueno sob a supervisão do engenheiro Cássio Veiga de Sá.

Da notícia da autorização para a construção da ponte até sua conclusão foram dois anos e quatro dias. Durante o período de construção, o governo estadual procurou preencher as colunas do principal veículo de informação com notícias do andamento da obra: festa por ocasião de conclusões parciais, visitas ilustres, entrevistas com o engenheiro responsável etc.

O primeiro traço de concreto foi inaugurado no dia 26 de agosto de 1940, contando com um pequeno evento inaugural presidido pelo interventor Júlio Müller, acompanhado de sua esposa a sra. Maria de Arruda Müller, e animado pela Banda da Polícia Militar de Mato Grosso.

Há um ano da inauguração, alunos da Escola Nacional de Engenharia (antiga Escola Politécnica do Rio de Janeiro, e, atualmente, parte da Universidade Federal do Rio de Janeiro), chefiados pelo professor catedrático Alírio de Matos, visitaram as “Obras Oficiais”. A visita se daria em resposta a um convite do governo de Mato Grosso ao ilustre engenheiro conterrâneo que galgou degraus no campo acadêmico, na Capital Federal.

Em setembro de 1941, o último pilar foi concretado. Para comemorar o fato, o engenheiro Cássio Veiga de Sá, responsável pela obra, ofereceu um brinde de champanhe no Grande Hotel, sendo convidadas algumas autoridades e a imprensa.

A inauguração movimentou a cidade. Tratava-se da primeira ponte ligando dois importantes distritos da capital: São Gonçalo de Pedro II, Segundo Distrito ou Distrito do Porto (atual bairro do Porto), e o Distrito da Várzea Grande ou Terceiro Distrito (atual Alameda, Várzea Grande). O prefeito de Cuiabá Manoel Miraglia decretou feriado municipal para que a população acorresse à ocasião solene.

Segundo a edição de 21 de janeiro, “Mais de dez mil pessoas compareceram ao ato inaugural da Ponte Júlio Strübing Müller” (O ESTADO DE MATO GROSSO, 21 jan. 1941, p. 1). A fita foi cortada pelo interventor após a bênção do padre salesiano Luís Sutera. Diversas autoridades discursaram durante a solenidade: o interventor Júlio Müller, o prefeito Manuel Miraglia, o diretor Geral da Instrução Pública professor Francisco Ferreira Mendes, a professora primária no distrito da Várzea Grande dona Adalgisa de Barros, o ex-prefeito cel. José Antônio de Souza Albuquerque e o presidente do Sindicato dos Chauffeurs José Antônio de Andrade. Todos exaltaram as realizações da interventoria de Júlio Müller. Chama a atenção o título da última página desta edição d’O Estado: “Povo e governo unidos no ideal de construção”. Parece a reprodução, em nível local, a constituição da figura do grande líder, condutor do povo-Uno, conforme cita professor Carlos A. Bertolini (2000, p. 133-134) da obra de Alcir Lenharo “Sacralização da Política”. O discurso do interventor reforça este papel de líder local condutor de todos: “(…) governando o Estado por honrosa delegação do grande benemérito Chefe Nacional, Presidente Getúlio Vargas, procuro estar em contato direto com os meus governados, resolvendo sempre, em perfeita comunhão de vistas, os problemas cujas soluções vêm sendo reclamadas por todos.” (MÜLLER apud O ESTADO DE MATO GROSSO, 21 jan. 1941, p. 1).

Este ponto de vista fica claro quando foi publicado, dias antes da inauguração, que “(…) decidiu o nosso povo batizar a majestosa obra com o nome do seu realizador – Ponte Bel. Julio Müller – mandando cinzelar no bronze o atestado de sua gratidão ao ínclito mato-grossense que com tanta clarividência, operosidade e patriotismo, vem dirigindo os negócios públicos de Mato Grosso.” (O ESTADO DE MATO GROSSO, 16 jan. 1942, p. 4)

De todo modo, a nova ponte serviu como via de integração não só local, ligando o distrito do Porto ao da Várzea Grande; mas regional: as cidades de Cáceres, Poconé, Livramento, Vila Bela da Santíssima Trindade, além do distante noroeste mato-grossense (atual Rondônia) teriam ligação rodoviária direta com a capital mato-grossense e com o Centro-Sul do Brasil. Antes, a ligação entre o Segundo e o Terceiro distritos era feita, desde 1874, pela barca-pêndulo (uma balsa feita de ferro e guiada por cabos que fazia a travessia de uma margem a outra do Rio Cuiabá).

Finalmente, a nova ponte também provocou alterações estruturais significativas no Porto. O distrito, embora tenha perdido parte da antiga Praça Luiz de Albuquerque, ganhou: um novo cais flutuante – equipamento importantíssimo para manter a movimentação de carga e descarga, embarque e desembarque da porta de entrada de Cuiabá; um ponto de carros de praça (uma espécie de serviço de táxi da época); e um serviço de transporte público ligando o Porto ao Distrito da Sé, ou Primeiro Distrito (atual Centro), com ônibus jardineira.

   

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